certas vezes alto e comprido que pareço fazer sombra...
outras tão pequeno e insignificante que quase juro não existir.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Os sapatos da Mamã....

Quantas vezes não ficámos somente a olhá-las a desejar num inconsciente pouco difuso ser como ela? Ser assim tão sábio? Ter a sua beleza e a sua certeza?


Foram tantas as vezes que olhámos, que sugámos estes seus traços e nos apoderámos deles como nossos, numa legítima partilha que os laços perpetuam e fortalecem. Quando o fazíamos não sabíamos…que a cada vez que calçávamos os seus sapatos, nos aperaltávamos com os seus lenços e embonecávamos com as suas pinturas, partículas tão valiosas como o ouro e tão pequenas como um brilho, se infiltravam na nossa pele e nos contagiavam.
Fizemos de trapos o nosso avental com as mesmas cores e tons, com os mesmos trejeitos cozinhávamos em cima do banco ao seu lado verdadeiros manjares dos deuses (de uma Grécia saída dos lápis do Walt Disney) e a aprovação era garantida mas exigente. Mas nós não sabíamos…que quando ela agarrava no nosso rosto anafado entre as suas mãos e nos sussurrava ao ouvido as músicas de embalar, estava a gravar a melodia de uma vida na nossa memória, que harmoniosa e precisa ritmaria os nossos passos.
Travámos lutas dantescas com o João Pestana para ficar só mais um bocadinho, para senti-la mais um pouco como nossa e parte de nós, para manter aquela espiral eloquente e incompreensível retida no tempo e no espaço que era só nosso. Realmente nós não sabíamos…que quando os seus braços nos envolviam para conter a birra e o seu riso se escondia por de trás do “ralhete” ela nos estava a lançar um feitiço, tão inquebrável quanto uma promessa e tão poderoso quanto o vínculo.
E como era bom saltar, correr e arriscar, desafiando as leis da gravidade e as proporções físicas, sabendo que mesmo após o choque e a violência da queda um beijo junto do galo e perto do arranhão tudo curariam. Mas nós não sabíamos mesmo…que quando nos enxugava as lágrimas e nos desinfectava as feridas ela soprava no algodão, um analgésico raro de acção retardante mas duradoura contra dores de teimosia, amor e crescimento.
E como é bom ter quem nos ensine a sorrir, a abraçar, a sentir falta, a saber esperar e a amar.

No fundo nós não sabíamos…mas sonhávamos que a nossa mãe era a melhor do mundo e queríamos somente ser um pouco daquilo que ela é
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1 comentário:

  1. Subscrevo totalmente. Eu passeava-me com os sapatos da mãe, com as «havaianas babartanas» do pai, enfim todo o mundo dos crescidos me aguçava a curiosidade. Até a esse fatídico dia em que achei que o rímel seria uma boa «camuflagem»....NOTTTT! Achei que não daria nas vistas ao passar um rimelzinho nas minhas pestanas que já não eram pequenas, ficaram.....totalmente esborratadas....porque pôr este tipo de maquilhagem ás 08:00h e juntar o facto de ter na altura 4 anos...tudo junto é ....hilariante...mas é incrivel a sensação de que por alguns instantes podemos ter a ilusão de sermos «crescidos»...até nas saídas dos mais velhos, tentáva sempre pedir algum dinheiro, na altura eram «7,5 cent» para entrar numa discoteca....e eu de tanto ouvir a conversa dos crescidos... lá me pus em bicos de pés e tive o desplante de pedir os tais cêntimos aos meus pais para ir á discoteca com a minha tia.....mal eu sabia que nunca iria ser fã de tal local de divertimento nocturno. A vida tem destas ironias....até os saltos altos da mãe se mostraram com o tempo que seriam um «altar» de vaidade e de tortura ao qual eu não me ajoelharia....não é irónica a vida?!

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