Estou como que desconectado...sou incoerente...uma coisa não bate com a outra...reina a confusão e o descontrolo. Eu tenho uma vontade e o meu corpo parece ter outra, percebe isto??Faz algum sentido?? Como é que pode fazer sentido se nem percebo em que direcção vai?? Não pode Drª.... não pode...cada um vai para o seu lado, os meus pés seguem para a esquerda e a minha cabeça há muito já vai adiantada pela direita. - Dizia o João de 16 anos em consulta a propósito daquilo que eram as vontade do corpo e os desejos internos, daquilo que fazia parte do seu crescer e viver ...
Na aliança empática e única que se estabelece entre duas pessoas nesta situação e ao sentar-me no "lugar" do João, ver com os seus olhos o seu mundo, ocorreu-me que é neste espaço do “nada” que nos reconfortamos e conhecemos sem tantas vezes nos compreendermos… Mesmo quando o silêncio não se rasga, quebra ou compromete, há uma voz que se estende e dilacera o vazio, para subsistir e comprimir sentido à existência de cada ser. De eu ser e tu também. Há simplesmente o som do pensar e do sentir, que às vezes ensurdece e tantas outras enlouquece mas que ninguém parece ouvir. Nem eu…nem tu…e tanto parece ter para dizer quando o amordaçamos,emudecemos e recalcamos. E enfurecido comanda, descoordena-me os membros, distende-os e enrije-se em espasmos de dor, revolta e descompensação. A luta mano a mano entre o eu e o mim.
E desde que nasce e já o é, um Ser, enquanto cresce e multiplica-se e, até, que se extingue é ele próprio a linguagem livre, espontânea e única que faz do corpo a sua tela, seu projector e sua matriz. Dono de mim e de ti, sem nos ter como propriedade, mas sabendo-nos como dado adquirido. Porque olhar o outro na sua ínfima perversidade inconsciente é procurar um reflexo de si, um fundo de autenticidade e valorização do próprio, desejando assim alimentar-se e preencher-se ridiculamente de coisas que não suas.
E reparamos como tudo é lívido! E quando damos por nós estamos a cair no abismo de separar o objecto que somos, palpável aos olhos dos outros e ao reflexo do espelho, daquele que habita nos meandros anatómicos munido de essência, carácter e história. Estamos a comprometermo-nos perdendo a noção dos limites do que somos e daquilo que desejamos ser. E como é difícil entender que o meu corpo não pode existir sem os meus pensamentos, e que estes que se julgam tão grandes não o são sem o meu corpo. Num monologo difuso e corrosivo relembra -
Não percebes que não posso existir sem a minha história, como as borbulhas acnosas não podem rebentar fora de um rosto. Aceita-me como sou, mesmo que o que eu sou não saiba quem é…é assim tão difícil? Não existo sem ti e tu não existirás sem mim. Não sendo nós a mesma coisa, existimos mutuamente numa mesma forma. Acredita que as palavras são infinitas…os sons inesgotáveis… porque só assim poderás descansar, pois continuará a existir um Eu, um Tu e um Nós e esta batalha que nos move a que chamamos vida!
O João desbravava agora um caminho que lhe parecia
assustador projectando numa divisão do corpo e mente a zanga e frustração das coisas que não podia mas desejava controlar, daquilo que era um sentir precoce e abrupto do que separa o adolescente do jovem adulto na passagem e luto de um que dá o lugar ao outro.Mais ainda, daquilo que acreditava ser um processo de separação, anulação e perda. Porém, com tempo...o seu tempo...o João começou a separar/dividir menos e a somar mais as suas emoções, calculando uma conta gigantesca que é hoje mais coerente e ajustada aos seus "números e operações". O João foi-se respeitando mais como um todo com um ritmo muito seu e nosso...deu lugar e espaço a si próprio sem pressas...ele era agora do tamanho que queria ser!
assustador projectando numa divisão do corpo e mente a zanga e frustração das coisas que não podia mas desejava controlar, daquilo que era um sentir precoce e abrupto do que separa o adolescente do jovem adulto na passagem e luto de um que dá o lugar ao outro.Mais ainda, daquilo que acreditava ser um processo de separação, anulação e perda. Porém, com tempo...o seu tempo...o João começou a separar/dividir menos e a somar mais as suas emoções, calculando uma conta gigantesca que é hoje mais coerente e ajustada aos seus "números e operações". O João foi-se respeitando mais como um todo com um ritmo muito seu e nosso...deu lugar e espaço a si próprio sem pressas...ele era agora do tamanho que queria ser!